Primeiramente, é importante derrubar a crença popular que só trabalha fora do país pessoas com conhecimento e performance fora do normal. Por exemplo, eu tive mais de um mês para escrever este artigo e só estou fazendo isso nos últimos dias possíveis; seria pura procrastinação? Um autoconhecimento absurdo sobre meus super poderes como um designer em solo europeu?
A resposta, obviamente, é a primeira opção. Pois bem, abaixo irei descrever um pouco da minha trajetória até chegar à Berlim na Alemanha, desde a ambição por algo até então inacessível, as fases dos processos seletivos, à oficial oferta de trabalho, assim como, o processo de mudança e a experiência de trabalhar há 9 meses em outro país.
Vale destacar que nada aqui é uma verdade absoluta, toda história é a soma de detalhes que pode até coincidir com resultados semelhantes, mas que é influenciada por oportunidades, privilégios, conhecimentos e esforços individuais. Em minha trajetória, foram 2 anos para conseguir uma oferta internacional, assim como, há quem conseguiu nos primeiros meses, é importante ter consciência disso, para não se deixar levar pela ansiedade, frustração e comparação durante a sua jornada.
Meus estudos com Design, iniciaram em 2012, durante o ensino médio. Logo, meu primeiro emprego foi em uma pequena gráfica, com o salário eu pagava metade da mensalidade da minha faculdade de Design Gráfico, os outros 50% foram custeados por uma bolsa de estudos do ProUni. Naquela época, meu foco era ter uma realidade diferente daquela que eu e minha família vivíamos, sempre tive a ambição de sair do país, mesmo sem ter dupla cidadania, contatos ou dinheiro para fazer aquele intercâmbio super descolado, eu sabia que teria que ser no modo “hard”.
Minha primeira entrevista internacional foi em 2019 para Amsterdã-Holanda, sempre fui de documentar os processos, hoje assistindo aquela gravação fica claro que eu ainda não estava preparado, mesmo que a minha carreira no Brasil estivesse evoluindo, eu tinha uma grande dificuldade com o Inglês e isso comprometia muito a minha comunicação, seja para transparecer meu conhecimento técnico, como conseguir estruturar respostas que ressaltassem qual era meu perfil e personalidade. O idioma será um dos seus principais diferenciais, eu por exemplo, faço aula de Inglês até hoje, pois me ajuda bastante, o quanto antes você começar a aprimorar isso melhor será.
Após alguns papos em 2020, foi em 2021 que eu voltei a focar no mercado internacional e fiz exatas 72 entrevistas com diferentes processos seletivos, o que me agregou uma bagagem com aprendizados importantes, como, saber quais eram as perguntas mais frequentes, o que esperar de cada etapa, como apresentar um projeto ou resolver um desafio técnico, e até mesmo como lidar com as frustrações de ter ficado no “quase”. Durante esse período, minhas frustrações foram alimentadas por minhas próprias expectativas e o principal aprendizado foi não me empolgar pesquisando sobre a vida no lugar, antes de ter uma oferta concreta.
Durante os processos, as empresas buscam por perfis mais seniores que em tese, oferecerão uma mão de obra especializada que não foi encontrada no local de origem, trazer uma pessoa de fora do país é algo que custa tempo e dinheiro, por isso, a escolha tem que ser a mais acertada possível, consequentemente, o nível de exigência durante o processo é maior, apesar de, ter etapas semelhantes às aplicadas por grandes empresas no Brasil:
Somente em janeiro de 2022, fui aprovado em um dos processos seletivos, recebi uma oferta concreta, basicamente, composta por todas as informações como, função da vaga, salário, benefícios e detalhes do pacote de realocação.
No meu caso, houve um bônus em dinheiro que só viria a ser pago, após o primeiro salário e também 01 mês de acomodação custeada pela empresa em Berlim. A situação de moradia na cidade é complicada e isso ajudou muito no início.
Pode parecer o fim, mas a oferta apenas inicia a parte burocrática. O processo de visto e mudança demanda muito esforço, disponibilidade e dinheiro. Eu só cheguei à Berlim em Abril, foram 3 meses reunindo documentos, com idas ao cartório e consulado, para enfim, receber o visto de trabalho na Alemanha.
Eu ainda vou escrever um texto somente deste tópico mas o que posso adiantar sobre esses 9 meses em solo germânico é que muita coisa aconteceu, inclusive já troquei de emprego, e passado o momento inicial de “tudo novo” a experiência ainda tem sido válida e positiva no geral.
No aspecto de trabalho, a diferença mais notória é na forma direta com que as pessoas se comunicam e se posicionam. O dia a dia em inglês também tem me agregado muito, principalmente na fixação do idioma. Já pessoalmente, as pequenas diferenças ainda são novidades, enquanto não se completa o primeiro ano, como, os dias longos de verão, dias curtos de inverno batendo à porta trazendo o anoitecer às 4h00 da tarde e a primeira neve da minha vida.
Eu recomendo a qualquer um que tenha oportunidade semelhante a aproveitar, mesmo que seja para mudar e chegar à conclusão que aquilo não é para si. Eu apliquei para vagas no mundo todo, Berlim “me escolheu”, eu não sei até quando ficarei aqui, mas por enquanto está compensando toda a trajetória que agora você conhece um pouco mais, eu espero que te inspire a também tentar.
Se você se identificou com a minha história, abordagem e quer evoluir sua carreira como designer no Brasil ou exterior eu te convido a conhecer mais sobre minhas mentorias para designers.
Obrigado e até a próxima